Os primeiros veículos de comunicação social em Itapecuru
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Os primeiros veículos de comunicação social em Itapecuru
A inauguração da eletricidade em Itapecuru, no final de 1948, desencadeou acentuada modificação no cotidiano da população, especialmente no campo do entretenimento e da comunicação social.
Ao prefeito Miguel Fiquene coube a introdução na cidade da energia elétrica, ferramenta importante e voltada para proporcionar melhores condições de conforto e de lazer à comunidade.
A inauguração da empresa Marília
Partiu do gestor municipal, como homem público de visão, a iniciativa de arregimentar esforços para transformar o cenário da terra que lhe deu um mandato popular, por conta da presença da eletricidade na cidade.
Para que essas inovações tecnológicas fossem introduzidas na cidade, Miguel Fiquene criou a Empresa Marília, por meio da qual a população disporia de equipamentos modernos de diversão e comunicação social, destacando-se um projetor de filmes cinematográficos e um serviço de alto-falante.
O Cine Marília
Com respeito ao cinema, como instrumento de diversão, a grande maioria da comunidade não o conhecia. Era, portanto, uma auspiciosa novidade, que serviria para preencher as ociosas noites itapecuruenses e de cidades vizinhas.
Com um misto de ansiedade e curiosidade, a população marcou presença na noite de 5 de março de 1950, ao ato em que se inaugurava festiva e solenemente a empresa Marília Ltda, voltada para proporcionar à cidade de equipamentos que a tornariam mais alegre e descontraída.
O cine Marília, assim denominado, começou a funcionar provisoriamente na residência do comerciante Wady Fiquene, irmão do prefeito Miguel e estabelecido na Rua do Egito. O espaço reservado à projeção de filmes era uma longa varanda, onde os espectadores, sentados em cadeiras comuns, se acotovelavam para ver a exibição das obras cinematográficas, quase todas produzidas nos Estados Unidos. O projetor de filmes era colocado num lugar destacado, tipo um pedestal, no final da varanda.
Os filmes eram exibidos quatro vezes por semana, sempre à noite, por volta das 20 horas. Aos domingos, aconteciam as vesperais, às 16 horas. Exibiam-se filmes de 18 milímetros, das conceituadas companhias americanas Metro Gold Mayer e Warner Bros.
Um clássico do cinema americano, “Sargento York”, protagonizado pelo artista Gary Cooper, inaugurou o Cine Marília. A população compareceu em peso. Os ingressos eram vendidos a preços acessíveis. A curiosidade era tão grande que muita gente, por falta de acomodação, sentava-se no chão. Os equipamentos cinematográficos ficavam sob à responsabilidade dos jovens José Domingues e Nonato Araújo, que receberam treinamento especial para manipulá-los.
Depois de alguns meses, o Cine Marília passou a funcionar em espaço próprio, localizado na Avenida Gomes de Sousa, prédio construído para receber dois tipos de plateia: aos mais dotados de poder aquisitivo, reservavam-se cadeiras de madeiras mais ou menos confortáveis. Para os assistentes de menor renda, destinavam-se um espaço menos confortável, à base de bancos compridos e sem encosto. Uma mureta separava as duas plateias.
Os alto-falantes
Com respeito ao serviço de alto-falante, não era novidade na cidade, que ficou conhecendo aquele equipamento de comunicação social por iniciativa do comerciante Abdala Buzar, que, na condição de promotor do festejo de São Benedito, contratava A Voz Pindorama, de Coroatá, para animar o arraial em torno da igreja.
O serviço de alto-falante, batizado com o nome de Voz Marília, entrava no ar em dois horários: das 10 às 13 horas e das 17 às 21 horas. Ao longo da programação, comandada pelos locutores Renato Oliveira, José Metre e João Batista Nogueira, transmitiam-se notícias diversas, atos da prefeitura e informações de interesse da comunidade.
Grande parte do faturamento do serviço de alto-falante provinha da veiculação de propaganda comercial e das mensagens musicais, que os ouvintes pagavam para enviar aos parentes e amigos, principalmente quando mudavam de idade e dedicavam-lhes canções gravadas em discos vinil pelos artistas que faziam sucesso na época, a exemplo de Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Gilberto Alves, Luiz Gonzaga, Ângela Maria, Marlene, Emilinha, Linda e Dircinha Batista e outros renomados cantores.
À falta de um local adequado para a instalação da Voz Marília, o equipamento começou a funcionar numa sala improvisada na residência do prefeito Fiquene, na Rua do Sol.
No rastro dessas inovações tecnológicas, que se transformaram em coqueluche e deram à cidade um sopro de modernidade, mais dois serviços de alto-falantes foram anos depois instalados em Itapecuru.
Em 29 de abril de 1950, portanto, um mês após a inauguração da Empresa Marília Ltda, o comerciante Abdala Buzar Netto, adquiria e doava à paróquia de Nossa Senhora das Dores uma amplificadora a que deu o nome de Voz Paroquial São Benedito, para divulgar informações católicas e animar as festas de largo promovidas pela igreja.
O estúdio da amplificadora ficava no interior da igreja, nas dependências da sacristia. Com dois alto-falantes, colocados na torre da matriz, a Voz Paroquial, para que fosse ao ar durante o dia, Abdala comprou também um pequeno gerador, para alimentar com energia o equipamento sonoro.
O primeiro locutor da Voz Paroquial chamava-se A. da Costa, posteriormente substituído por Edmar Bezerra. Para mantê-la, os fiéis colaboravam com pequenas quantias advindas das mensagens musicais.
No alvorecer de 1951, o professor João Rodrigues informava à população de que mais um serviço de alto falante seria instalado na cidade. Para isso, fundara a Organização Radiofônica Voz do Comércio, equipamento comprado em São Paulo, modelo Philips, que funcionava com toca-discos, microfones e quatro alto-falantes.
Dias depois, ele anunciava a inauguração da Voz do Comércio, em 9 de março de 1951. A comunidade tomou conhecimento da chegada da amplificadora por meio de intenso foguetório. O estúdio, montado na residência do proprietário, na Praça Gomes de Sousa, onde também se instalaram os alto-falantes. Para dirigi-la, João Rodrigues convocou o filho Antônio Olívio, jovem e brilhante intelectual, que teve a desdita de morrer prematuramente.
A Voz do Comércio e a Voz Marília, por pertencerem a políticos militantes, transformaram-se também em instrumentos partidários. Por ocasião das campanhas eleitorais, veiculavam propaganda e mensagens dos candidatos e políticos.
Os jornais
João Rodrigues, além de emérito professor e dono de uma instituição de ensino - o Instituto Rio Branco, que educou várias gerações, prestou relevantes serviços ao município no campo da comunicação social. Deve-se a ele também o gesto pioneiro da fundação em Itapecuru, nos meados da década de 30, do século passado, de um pequeno jornal, mas valioso pelas informações a respeito de pessoas e de eventos da cidade.
Intitulado de A Gazeta, circulava com as dificuldades inerentes da época. O jornal era feito pelo sistema tipográfico. A oficina funcionava na Rua do Egito. Com o advento do Estado Novo, que passou a censurar a imprensa, vieram à tona dificuldades para os jornais do interior, destacando-se a carência de papel e as perseguições políticas contra os que não rezavam na cartilha dos novos detentores do poder. Para não sofrer dissabores e malquerenças, João Rodrigues obrigou-se em 1937 a encerrar as atividades de A Gazeta.
A volta do país ao regime democrático, fez com que ele novamente entrasse em ação e com obstinada determinação, decidiu fundar outro jornal, através do qual continuaria a defender as suas ideias políticas e seus princípios partidários, que se materializaram com as conquistas de um mandato de vereador e de prefeito, cargo que ocupou duas vezes.
Com efeito, em dezembro de 1946, ganhava as ruas da cidade o jornal O Trabalhista, em homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas, fundador do PTB, partido ao qual João Rodrigues se filiou e passou a ter participação ativa no cenário político de sua terra. O Trabalhista, assim como A Gazeta, adotava uma linha crítica com relação aos administradores municipais. Salvo melhor juízo, o último número do jornal circulou no começo de 1952.
Quando O Trabalhista surgiu o processo tecnológico usado na montagem de jornais ainda era o mesmo da época de A Gazeta: a tipografia. Um profissional se encarregava de fazer tudo, excetuando-se os textos, estes, produzidos em manuscritos ou em máquinas de datilografia por jornalistas amadores.
O semanário itapecuruense circulava com quatro páginas. Em casos excepcionais, chegava a seis, com registro de notícias diversas da cidade, ressaltando-se os assuntos políticos, tendo em vista que nas veias do proprietário corria o sangue do partidarismo.
A cidade só voltou a contar com jornal impresso nos idos de 1991, por iniciativa do publicitário Gonçalo Amador. O novo veículo de comunicação, com o título de Jornal de Itapecuru, chegou às ruas para suprir a ausência do jornal O Trabalhista, que deixou de circular em 1952, quando o professor João Rodrigues, seu diretor, não teve mais condições de mantê-lo, face aos custos elevados do material gráfico.
O Jornal de Itapecuru, para não enfrentar problemas idênticos aos de O Trabalhista, levou o seu proprietário a imprimi-lo em São Luis, utilizando os serviços de gráficas particulares. Impresso em policromia, editado mensalmente, em tamanho igual aos que circulam em todo o país e com um número de páginas que variava conforme o noticiário e a publicidade. O Jornal de Itapecuru especializou-se na veiculação de informações e de notícias da cidade e de municípios circunvizinhos.
A televisão
Na área da comunicação social, a população itapecuruense voltaria a ter dias de contentamento e vibração, em abril de 1969, por iniciativa do então prefeito João Rodrigues.
Autorizado pela Câmara Municipal, a prefeitura instalou na Praça Gomes de Sousa um aparelho de televisão, para que a comunidade não dotada de suficiente poder aquisitivo assistisse aos programas veiculados pela TV Difusora, do grupo Bacelar.
Num pedestal, construído e instalado na principal praça da cidade, um televisor funcionava das 19 às 22 horas e ativado por um servidor municipal.
Quando a televisão entrava no ar, os telespectadores se posicionavam em frente ao pedestal e ali ficavam até a hora que o servidor municipal o desligava. As novelas eram os programas preferidos da população, que chegava cedo à praça para ocupar os melhores lugares.
A partir da década de 1970 o aparelho de TV deixou a Praça Gomes de Sousa, em função da produção em massa de televisores, que possibilitou o acesso pecuniário àquele poderoso bem de consumo, facilitado pela instalação de estações geradoras ou repetidoras das imagens veiculadas pela televisão para todas as cidades brasileiras, por conta da Embratel.
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