The oyster and the starfish

Authors

  • Fabiano de Andrade

ARK:

https://n2t.net/ark:/35231/pergaminho.v1n1.18

Abstract

A Ostra sentada num rochedo em meio as algas que dançavam pra lá e cá, perscrutava imóvel, com um olhar de horizonte, a Estrela-do-mar, que por ali passava. Três de seus cinco braços envolviam seu próprio corpo em um tenro abraço, com os dois restantes caminhava lentamente contra a corrente oceânica. Quando notou ser observada, declarou: “É a correte das Malvinas, vêm sempre muito fria nessa época do ano”, justificando o abraço forte que dava em si mesma. A ostra imediatamente enrubescera e fechara-se.

- Ei, pode abrir, não queria te assustar, desculpou-se a Estrela, você parecia estar tão pensativa, distante, o que estava a pensar?!

Abrindo a concha superior lentamente, a ostra declara:

- Nada não.

- Hum... - se aproximando e com dois braços cruzados nas costas, chutando uma pequena pedra de calcário, a Estrela pondera – meu avô falava que o calor nos faz ativos; o frio, reflexivos.

- Parece-me que seu avô era uma Estrela-do-mar muito sábia, responde a Ostra se fechando um pouco para evitar a luz oceânica difusa sobre o seu rosto ou quem sabe para evitar que seus olhos fossem vistos.

- Na verdade meu avô não era uma Estrela-do-mar, era uma Estrela-do-ceú, por isso, dizia ele que os homens, que adoram inventar classificações das coisas inclassificáveis, nos colocou na classe Asteroidea. Vem do grego, sabe, "astér", estrela, e "oide", forma de, semelhante...

- Ele era um asteroide?!

- Sim, viva a brilhar lá no céu!

- Mas como então veio parar no fundo do oceano?!

- É uma história meio engraçada, mas você nota que temos essas cicatrizes que vão da ponta de nossos baços até o nosso centro?!

- Sim, mas pensei ser um sinal de família, de classe, filo, não sei, nunca aprendi isso.

- Às vezes, as cicatrizes se transformam em sinais. Meu avô dizia que nosso primeiro ancestral vivia lá no céu, mas ele caiu, despencou, sabe, pah!

- Mas por quê?!

- Ele era um asteroide, grande e feliz, mas pouco a pouco foi perdendo partes de si, virando um meteorito e caiu no mar, os humanos chamam de estrelas cadentes, não gosto desse nome, as estrelas nunca deveriam ser cadentes.

- Mas perdendo parte de si por quê?!

- Meu avô acreditava em vidas passadas, ele me falava “...cada vez que um sentimento não é dito, você perde parte de si, júnior, você morre um pouco, até desaparecer e ressurgir em outro corpo, totalmente diferente. Nós fomos asteroides, grandes no oceano celestial um dia. Somos seres nostálgicos, é difícil largar o passado, guardamos algo, sutil e íntimo de nossas vidas passadas. Fomos estrelas no céu, e não quisemos deixar de ser estrelas no mar

- Interessante... – ponderou a Ostra, mais para dentro do que para fora da concha.

- Eu tenho que ir agora, a corrente das Malvinas está voltando mais fria ainda, a estrela deu as costas já saindo.

- Ei, antes, me diga, o que você acha que as ostras foram na vida passada?

- Não sei, talvez ouriços do mar que foram pouco a pouco perdendo partes de si, perdendo espinho a espinho, até que sem espinhos mais a perder, partiram-se em dois, virando conchas. Mas não perderam as manias de ouriços.

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Published

2021-12-24

How to Cite

DE ANDRADE, F. The oyster and the starfish. Parchment Journal, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 148–149, 2021. Disponível em: https://revistapergaminho.aicla.org.br/index.php/pergaminho/article/view/18. Acesso em: 23 nov. 2024.